O ano do Palmeiras vai enfim começar - e promete ser ainda mais quente fora de campo
Longe de mim ser daqueles que fala que “o ano só começa depois do Carnaval”, justo eu que tenho trabalhado igual a um corno sem pai desde o dia 2 de janeiro. Mas é um fato que, dentro de campo, o ano do Palmeiras só começa a valer sábado, quando o time enfrenta a Ponte Preta em Barueri, abrindo as quartas de final do Paulistão.
Embora já tenha entrado em campo para disputar 13 partidas nos últimos dois meses, e até disputado taça, perdida nos pênaltis para o segundo maior rival (o que aumentou a importância do jogo do Mineirão em 400%), é notório que tudo o que aconteceu até agora foi apenas uma pré-temporada de luxo.
Quer dizer, não é tão simples assim. A fase inicial do Paulista é um tipo curioso de pré-temporada em que é preciso obter resultados - para não correr o risco de passar vergonha igual o maior dos rivais. Os resultados vieram, é verdade, o suficiente para o Palmeiras terminar a melhor campanha na fase de classificação e ter a vantagem de decidir os confrontos “em casa”. Mas também é notório que o time até agora jogou muito pouco, em qualidade, apenas o suficiente para vencer os adversários menos complicados, empatar os jogos mais truncados e tomar um empate idiota no maior clássico.
Ao mesmo tempo, é um período em que fazer esse mínimo já deveria ser o suficiente. Ou que, pelo menos, os testes e observações feitas pelo treinador e as atuações pouco inspiradas de alguns jogadores não precisavam ser razão de tanto sofrimento e ódio para aquela pequena (porém barulhenta) parte da torcida que acha tudo um horror, um caos, invencionice do técnico e pouco caso de um elenco mimado. Enfim, não vou voltar a esse assunto.
Vencer a Ponte é obrigação, por mais que seja uma partida que, no depender das circunstâncias da fase inicial, poderia ser considerada “empatável”. Tem que passar, uma vez que chegar às semifinais é o mínimo aceitável para um Paulistão que é só uma pré-temporada de luxo, paradoxos do maluco futebol brasilero. Esperamos, é claro, atuações melhores e especialmente mais vibrantes. E, claro, dependendo do adversário, parar na semifinal também não será opção aceitável - mas vamos com um passo de cada vez.
Habemus eleição, e vamos Avante
Mais emocionantes que os jogos, até agora, têm sido as discussões de bastidores a respeito da possibilidade de formação de uma chapa de oposição para enfrentar a presidente Leila Pereira nas eleições previstas para o fim do ano - quando se encerra não só o primeiro mandato dela como presidente, mas também o contrato de patrocínio de sua empresa com o clube, que estará então completando 10 anos.
Ontem (segunda, 11 de março) houve a primeira reunião do Conselho Deliberativo do ano e consta que ela, pra variar, se posicionou muito mais como a CEO da financeira do que como presidente do clube. Vou colar os links de alguns tuítes aí embaixo para que vocês vejam por si mesmos.
https://twitter.com/FelipeGiocondo/status/1767503618331000886
https://twitter.com/JApparec/status/1767357568865759339
https://twitter.com/vaiparmera/status/1767390032535449871
https://twitter.com/Criscio/status/1767548436792897876
Questionada mais uma vez por conselheiros oposicionistas sobre o contrato de patrocínio que o Conselho foi impedido de ver, mas que ela mostrou a um jornalista por horas a fio dentro de seu escritório, desconversou e repetiu a ladainha de que colocou dinheiro no Palmeiras como ninguém fez antes ou depois - como se isso tivesse sido fruto de uma doação desinteressada e não um acordo comercial com compromissos e resultados positivos de parte a parte. Honestamente, qual era o valor da Crefisa como marca em 2014 e qual é agora?
O clima vai esquentar, e, ao que parece, a oposição, reunida num grupo até agora batizado como Palmeiras Avante, conseguirá encontrar denominadores comuns para efetivamente lançar um candidato - que, diz-se, teria apoio de até uma centena dos cerca de 300 conselheiros atuais. Pode ser pouco, numericamente, para obter vitórias no Conselho, mas pode sim ser número suficiente para criar um ambiente de mudança dentro do clube.
Vale lembrar que as eleições presidenciais do Palmeiras são diretas, ou seja, o conselho é um monitor relevante, mas não necessariamente um sinal exato do que pode acontecer nas eleições.
Vale inclusive usar o rival como parâmetro relativo de comparação: um ano atrás, pouquíssima gente fora do Parque São Jorge sabia quem era Augusto Melo, e a poucos meses da eleição parecia pouco provável que ele conseguiria reunir apoio em torno de seu nome para derrubar o grupo político que mandou no Corinthians ao longo de 16 anos e meio.
(A comparação é relativa por uma série de fatores, mas principalmente porque a má fase alvinegra em campo ajudou a bombardear a chapa da situação, culminando com uma goleada por 5 a 1 sofrida diante do Bahia, em casa, na véspera da eleição, que acabou definitivamente com o clima para qualquer tentativa da Renovação & Transparência se manter no poder.)
Avisando desde já: este autor é participante do Ocupa Palestra, um dos movimentos que vem atuando na formação do Avante, e provavelmente endossará uma candidatura de oposição que prometa derrotar Leila e modernizar a gestão do Palmeiras, acabando com os conflitos de interesse e as decisões tomadas com a clara intenção de tornar o clube cada vez mais dependente de sua parceira, até que os dois sejam uma coisa só.
Avisando também: jamais vou torcer pelo fracasso em campo do Palmeiras em nome de um possível benefício político - até porque isso geralmente significa pouco dos lados da rua Palestra Itália, basta lembrar de Mustafá esmagando Belluzzo na eleição de janeiro de 2003, 45 dias após o primeiro rebaixamento à Série B.
Que o Palmeiras continue a ser vitorioso em campo, apesar de claramente a presidência estar jogando contra. Quanto mais títulos melhor, a começar pelo Paulistão que começa a se decidir agora. E que, ao mesmo tempo, novos ventos possam oxigenar e mudar para melhor a política do clube, para que tenhamos muito a comemorar ao fim de 2024 - dentro e também fora de campo.
Avante, Palmeiras!